terça-feira, 17 de junho de 2014

Logística reversa – Muito além da reciclagem


O crescimento dos mercados globais, o aumento da competitividade e as influências de tecnologia, obsolescência e a modernidade estão causando significativos impactos na rotina das organizações.

O foco antes dedicado exclusivamente à obtenção de vantagem competitiva em embalagem, desenvolvimento de novos produtos e redução de custos de matéria prima, hoje passou a ser ampliado, pois a grande maioria dos produtos disponíveis no mercado hoje não é totalmente consumida.

Os descarte adequado de resíduos de materiais não utilizados, embalagens e produtos com componentes químicos estão caracterizando um grande desafio às organizações, e seu impacto sobre a sociedade e meio ambiente fazem do tema um caso de extrema relevância.

Entre as alternativas de destino a estes materiais, existe a reciclagem, o reprocessamento e devolução ao mercado, ou ainda, no caso de não haver mais utilidade do material, o descarte pela deposição em algum depósito definitivo na forma de lixo. 

É notável o crescente interesse pelo assunto convencionalmente chamado de “logística reversa”, contudo ainda poucos autores se dedicaram a pesquisa e desenvolvimento de material científico sobre o tema.

Na Logística tradicionalmente realizada, parte-se de um fabricante e define-se o caminho até o consumidor final. De forma simplificada, a Logística Reversa trata do caminho inverso, no qual o produto tem como ponto de partida os inúmeros consumidores, com destino ao fabricante.

Desta forma pode-se verificar a primeira característica do processo: o desafio de reunir produtos disseminados entre milhares de clientes para retornarem a um mesmo fabricante. As empresas cada vez mais investem em campanhas sociais e buscam comprometer-se com o meio ambiente e com a saúde. Assim as empresas estão sendo obrigadas a repensar suas estratégias comerciais e seus produtos, pois sua imagem é diretamente afetada caso seu produto cause danos à sociedade.


Apesar da literatura ainda ser bastante restrita sobre o tema, existem algumas definições, conceitos e nomenclatura de Logística Reversa bem aceitos em geral que apresentamos a seguir: 

  • “Logística reversa é um amplo termo relacionado às habilidades e atividades envolvidas no gerenciamento de redução, movimentação e disposição de resíduo de produtos e embalagens…” (CLM, 1993:323, Apud: Leite, 2003). 
  • “Logística reversa: em uma perspectiva de logística de negócios, o termo refere-se ao papel da logística no retorno de produtos, redução na fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais, disposição de resíduos, reforma, reparação e remanufatura…” (Stock, 1998:20, Apud: Leite, 2003). 
  • “O Processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição” (Rogers e Tibben-Lembke, 1999:2, Apud: Leite, 2003). 
  • “Logística reversa cuida dos fluxos de materiais que se iniciam nos pontos de consumo dos produtos e terminam nos pontos de origem, com o objetivo de recapturar valor ou de disposição final” (Novaes, 2004: 54) 

Desta forma, a logística reversa tem como objetivo tornar possível o retorno dos bens ou de seus materiais constituintes ao ciclo produtivo ou de negócios, agregando valor econômico, ecológico, legal e de localização. Ainda segundo Novaes (2004) a logística reversa tem dois objetivos distintos: recapturar valor; e oferecer disposição final.

Estas atividades visam 3 finalidades: reciclagem, reprocessamento ou descarte. Entende-se como reciclagem a transformação de componentes/materiais usados para serem reincorporados na fabricação de novos produtos. Este é o exemplo do aço: a sucata de produtos descartados é misturada ao mínimo de ferro em indústrias siderúrgicas.

Sob a ótica da reciclagem e preservação do meio ambiente, alguns autores citam a logística reversa como logística verde. A indústria de latas de alumínio é notável no seu grande aproveitamento de matéria prima reciclada, tendo desenvolvido meios inovadores na coleta de latas descartadas.

Nos casos em que a reciclagem é anti-econômica ou há excesso de oferta no mercado, é necessário garantir o descarte de forma segura para a população e meio ambiente.

Existem ainda outros setores da indústria onde o processo de gerenciamento da logística reversa é mais recente, como na indústria de eletrônicos, automobilística e de produtos radioativos. Estes setores também têm que lidar com o fluxo de retorno de embalagens, de devoluções de clientes ou do reaproveitamento de materiais para produção.

Tendo como foco o reprocessamento para ampliação do ciclo de vida do produto/embalagem, podemos citar como exemplo os fabricantes de bebidas. Estes têm que gerenciar todo o retorno das garrafas dos pontos de venda até seus centros de distribuição.

Uma situação diferenciada trata de empresas terceiras que têm como objetivo de negócio a reciclagem de materiais para um novo processo produtivo, independente do fabricante original. Podemos citar exemplos de produtos inseridos neste cenário como sendo pneus, cartuchos de tinta de impressoras, garrafas pet, etc., que não voltam para sua indústria de origem, mas sim são fontes de matéria prima para indústrias completamente diferentes

A logística reversa de pós-venda é área de atuação da logística que se ocupa do equacionamento e operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas de bens de pós-vendas em uso ou com pouco uso, os quais por diferentes motivos retornam aos diferentes estágios das cadeias de distribuição direta. O objetivo do negócio desta área da logística empresarial é agregar valor a um produto que é devolvido por razões comerciais, erro no processamento dos pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento, avarias no transporte, etc...

Por outro lado, a logística reversa de pós-consumo é a área de atuação da logística que equaciona e operacionaliza o fluxo físico e as informações correspondentes de bens de consumo que são descartados pela sociedade e que retornam ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo por meio dos canais de distribuição reversos específicos.


Área de atuação e as diversas etapas da logística reversa 

O campo de atuação da logística reversa é bem ilustrado por Leite (2003) através da próxima figura, onde são resumidas as principais etapas dos fluxos reversos nas duas áreas de atuação acima citadas:

Foco de atuação da logística reversa 


Conclusão

É notório que a Logística Reversa, embora com uma importância crescente, é ainda uma área com pouca ênfase na estratégia competitiva das empresas. Podemos observar este fato quando verificamos que, apesar de representar uma operação tão complexa quanto à logística convencional, não há função gerencial dedicada a este assunto nas empresas.

No Brasil, pelo fato da legislação ainda engatinhar na questão ecológica / ambiental, fator de grande influência na motivação para a organização de um canal convencional, as estatísticas e materiais bibliográficos da logística reversa limitam-se praticamente a casos de reciclagem bastante tradicionais, como por exemplo, o das garrafas PET, das latas de alumínio, materiais ferrosos e de óleos lubrificantes.

Os desafios da logística reversa são ainda maiores comparados à logística convencional. As fontes de produtos de pós-consumo ficam, em geral, próximas aos grandes centros e irão alimentar indústrias que estão distantes destes centros, próximas às matérias primas novas, gerando dificuldades logísticas.

Os impactos da alta competitividade mundial já estão sendo percebidos, através de problemas como aquecimento global, desmatamento e poluição. E por esta razão, os consumidores estão cada vez mais exigentes quanto à responsabilidade social empresas, que não devem mais ter foco no curto prazo, e sim como o futuro.


Referências:
Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias. Disponível em: <www.inpev.org.br>. Acesso em 24 Abril 2007.

LACERDA, Leonardo. Logística Reversa – Uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais. acessado no endereço web http://www.centrodelogistica.com.br/new/fs-panoramas.htm, em 28/03/2007.

LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2003.

REVISTA LOGÍSTICA Movimentação e Armazenagem de materiais. Uma fábrica de desmontagem. Ano XXVII – No. 196 – Janeiro de 2007. São Paulo: Editora Instituto IMAM.

MALINVERNI, Cláudia. Logística Reversa: Em nome do meio ambiente. Revista Tecnologística. Ano IX – N° 102 – Maio 2004. Publicare Editora.

MUELLER, Carla Fernanda. Logística Reversa Meio-ambiente e Produtividade. Acessado na Internet no endereço web http://www.gelog.ufsc.br/Publicacoes/Logistica%20Reversa.pdf em 31/03/2007.

NOVAES, Antônio Galvão. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição: Estratégia, Operação e Avaliação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

ROGERS, Dale S., TIBBEN-LEMBKE, Ronald S., Going Backwards: Reverse Logistics Trends and Practices, Center of Logistics Management, University of Nevada, Reno, 1998.



Fonte: http://www.logisticadescomplicada.com/logistica-reversa-muito-alem-da-reciclagem/

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