sábado, 14 de junho de 2014

Obsolescência Programada – bens “duráveis” com prazo de validade

O texto a seguir mostra um método que vem sendo muito utilizado na fabricação dos materiais chamado: OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA


Prática muito difundida pela indústria atual, a Obsolescência Programada busca manter os lucros através do estímulo ao consumo desnecessário.

Um breve histórico

Na década de 1920 do século passado, para manter a venda de seus produtos em nível alto, industriais passaram a adaptar sua produção de forma a tornar seus produtos mais frágeis e perecíveis, mesmo aqueles que tinham como característica a durabilidade. Deste modo, passaram a adotar duas práticas: a de usar materiais que se desgastam mais rapidamente, como no caso das lâmpadas incandescentes, e a incorporar novas tecnologias periodicamente aos produtos, como forma de agregar prestígio a eles, como acontece ainda hoje com os automóveis.
Em 1929, a crise da Bolsa de Nova Iorque causou diminuição no consumo, sendo necessária uma nova conduta para reaquecer a economia. Foi então que surgiu nos Estados Unidos a ideia do “Modo de Vida Americano” (American Way of Life), em que os produtos eram associados à diversão e à própria felicidade. Esta associação favoreceu a retomada do consumo neste contexto de crise.
Do ponto de vista econômico, o consumo é importante, pois movimenta a economia, gerando empregos e avanços tecnológicos. Daí a preocupação dos governos em estimulá-lo, como forma de fazer os países crescerem. Entretanto, estas vantagens devem ser pesadas em relação ao passivo ambiental (ou custos da degradação ambiental) que causam, pois a produção industrial impacta o ambiente desde a obtenção de matéria-prima, passando pela fabricação e chegando aos resíduos produzidos.


Obsolescência Programada: o que é?

Obsolescência é o processo de tornar algo obsoleto, ultrapassado, arcaico ou antigo. Assim, a Obsolescência Programada consiste em fazer produtos duráveis com “prazo de validade”, ou seja, produtos que têm sua vida útil determinada em sua fabricação, por meio do uso de materiais que se deterioram mais rapidamente ou pela constante incorporação de novas tecnologias, tornando modelos anteriores ultrapassados, mesmo quando em perfeito funcionamento. Produtos que antes eram usados por várias gerações, como eletrodomésticos e utensílios para o lar, hoje não têm mais uma vida útil semelhante. É o que ocorre, por exemplo, com os televisores. Muitos compraram novos aparelhos de LCD recentemente, não porque seus aparelhos estivessem quebrados ou com funcionamento comprometido, mas porque a tecnologia empregada nos mais novos é mais moderna. Desta forma, TVs em ótimo estado de conservação e em condições de uso transformam-se em lixo eletrônico precocemente.


O preço a ser pago:
Importantes questões devem ser consideradas em relação à Obsolescência Programada

Contaminação: Esta prática acaba por aumentar o despejo no ambiente de elementos tóxicos e radioativos usados em muitos dos aparelhos eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Isto põe em risco o solo, os lençóis freáticos e cursos d’água, a atmosfera e a saúde pública, pois sua decomposição é demorada e seu manejo, via de regra, totalmente inadequado.

Subemprego e saúde pública: Em busca de componentes valiosos, como o cobre e ouro, catadores manuseiam, sem qualquer equipamento de proteção ou treinamento, estes materiais nocivos, expondo-os ao ambiente, aos animais e às outras pessoas. Este é um fenômeno comum em países em desenvolvimento, onde o subemprego e a importação do lixo tecnológico dos países desenvolvidos são realidade. Um caso que repercutiu no Brasil ocorreu em Goiânia/GO, em 1987, quando catadores de sucata abriram um aparelho radiológico abandonado nas antigas instalações de uma clínica de radioterapia goiana, espalhando o material radioativo, Césio 137, pelo ambiente. Muitas foram as sequelas e mortes. Embora este exemplo não se refira a um equipamento doméstico, pode servir para ilustrar o perigo a que a população em geral está exposta, uma vez que, como já dito, há eletrodomésticos que empregam materiais tóxicos e radioativos, como TVs e fornos de micro-ondas e que, por falta de uma regra específica (ou mesmo do cumprimento das regras existentes), podem ser depositados em locais inadequados (É importante saber que só em agosto de 2010 foi promulgada, no Brasil, uma Política Nacional de Resíduos Sólidos mais próxima de sua realidade contemporânea, depois de tramitar por duas décadas no Congresso Nacional).

O fim dos recursos: Taxas de consumo grandes como as atuais aceleram a extinção dos recursos naturais por sua utilização em volume muitas vezes superior à capacidade de recomposição do ambiente. Desta forma, estes recursos tendem a sumir do planeta caso continue a exploração crescente para a manutenção do consumo e para fazer face às necessidades dos novos consumidores que saem da faixa de pobreza.

O impacto da geração de energia: Mais produção significa mais necessidade de energia e sua geração apresenta custos ambientais altos, como o aumento no uso de combustíveis fósseis, altamente poluidores, de combustíveis nucleares, de alto risco ambiental, e usinas hidrelétricas, que alagam grandes faixas de terras e impactam grandes regiões, comunidades e ecossistemas.


O Dilema

Como se pode perceber, vive-se hoje um dilema entre os fatores ecológico e econômico: Como combinar a manutenção dos níveis de crescimento, altamente dependentes do consumo, com as necessidades mundiais por um meio ambiente preservado e um desenvolvimento sustentável? Como produzir mais com todo o passivo ambiental deixado às futuras gerações pelo modelo vigente?


Existe solução?

É necessário repensar o modo de produção, substituindo a ideia de que a inovação só virá pela fabricação ilimitada de novos produtos, por outra, que admite que ela possa vir pela melhoria dos já existentes. Nesta nova realidade, os serviços de assistência técnica recuperariam a importância que tiveram em outros tempos, já que seria por meio deles que as inovações produzidas pelas indústrias seriam adaptadas aos bens de consumo existentes, a preços mais acessíveis. Isto desestimularia a compra de novos produtos. Por que não desenvolver computadores pessoais que possam, por meio de serviços técnicos, receber peças mais modernas ou softwares que garantiriam seu funcionamento em novos cenários tecnológicos, ao invés de desenvolver um novo computador a cada evolução criada? Para que isso ocorra, as grandes indústrias teriam que abrir mão da Obsolescência Programada e voltar a investir em produtos duráveis, sem “prazo de validade” oculto.

A adoção da Logística Reversa, que consiste na devolução para os fabricantes dos resíduos dos produtos, como embalagens e rótulos, e dos próprios produtos, depois de inutilizados, poderia ser uma alternativa para a reutilização das matérias-primas para a fabricação de novas embalagens, rótulos e produtos, de forma a exigir menos do meio ambiente.

Iniciativas como o Consumo Compartilhado, que consiste no uso comunitário de espaços ou bens diversos, poderiam ser reforçadas pelo aumento na durabilidade dos utensílios, uma vez que produtos mais resistentes poderiam ser trocados e utilizados por um longo período de tempo, de acordo com as necessidades das pessoas envolvidas. Para quê comprar uma batedeira nova se seu vizinho tem uma que, embora não use mais, funciona normalmente? A sociedade, ao entender que os produtos só têm valor se servirem efetivamente para seu bem-estar, ao invés da noção atual de que o valor está no prestígio que acompanha o produto, deixará o consumo irracional.


A seguir, um vídeo fazendo um resuminho de tudo que você leu acima e mais algumas coisas:




Autor: Maurício da Costa Barros
Fontes:
Texto - http://brasil.thebeehive.org/content/1842/5065
Vídeo - Youtube

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